17 de janeiro de 2013

Conta de motel

Era sexta-feira, cidade pequena, os mesmos lugares e as mesmas pessoas. Eu propunha ao meu namorado fazer algo diferente, sugeri um motel. Engraçado foi perceber a primeira reação de espanto com a proposta, ele nunca ouviu aquelas palavras saírem da boca de uma mulher, ainda mais uma mulher que até então só tinha sido dele.
Confessei que antes tinha insegurança sobre o assunto. Nunca tinha ido a um lugar assim, pois tinha medo que alguém me reconhecesse, e você sabe... Não dá pra saber quem passou por esses lugares (ou que doenças carregam). Mas meu amado explicou-me que era totalmente seguro, privado e higiênico. Depois de alguns minutos de indecisão, dele, é claro, tomamos rumo ao motel.
Chegando lá tudo ocorreu normalmente. Entre minhas pernas e seus braços, entre nossos suspiros, os meus gemidos, nosso suor e saliva. O mundo parou! Usufruímos de tudo naquele quarto. Não importa quantas pessoas já passaram por ali, quantos gozos e jorros tiveram gosto naquela cama. Fizemos daquela noite o mais épico entretenimento.
Mas aconteceu o vergonhoso e desastroso empecilho: Ele estava sem o cartão de crédito, e as notas que continham na carteira dele juntando com as minhas não cobriam nem a metade da conta. O que faríamos? Ah, meu cartão de crédito. Eu poderia facilmente pagar e depois receber o dinheiro. Mas como, se meu cartão é adicional do meu pai? Antes mesmo de chegarmos à cidade ele receberia um mensagem confirmando a transação. Com que cara meu namorado e eu iríamos encarar meus pais e explicar que fomos a um motel?
Bom, ou pagava ou lavava lençol suado do sexo dos outros. Paguei! Já em casa no dia seguinte, eu estava pavorosa, desconfiada até mesmo da minha própria sombra. Pensei em apagar a mensagem do celular antes que Painho visse, de nada iria adiantar, quando a fatura chegasse ele ia ver. E viu, cerca de 10 dias depois. Sentamos papai, mamãe e eu - a mais nova vadia da família - pra aquela tal conversa constrangedora que as famílias conservadoras sempre preparam, parece ensaiada por anos. Estava eu num belo encontro com o moralismo.
Nervosa, tentei explicar o acontecido e até ressaltei que iria receber o dinheiro, mas meus pais não quiseram saber. A mãe coitada, aleatória a vida achou que a filha estava perdida, tinha se entregado as más influências mundanas. Painho, apenas ignorou a reação de minha mãe, passou batido pelas minhas palavras e exprimiu sua opinião em frases muito curtas:
- Se ele vai te levar a um motel, que ao menos tenha a dignidade de pagar a conta. Mulheres não podem jamais pagar a conta de uma foda.
Sem movimentos bruscos ou reação exagerada, eu, então mulher de corpo e alma, me direcionei ao meu pai, fui a mais direta que pude:
- Mulheres sempre pagam a conta de uma foda. E não é de hoje! Somos nós que pagamos quando o sexo for ruim, ou se vocês não tiverem a competência e broxarem. Afinal o problema está na mulher que não sabe seduzir... Nós pagamos na língua de vocês se algo der errado e uma nova criança surgir. E ainda assim, temos que abaixar a cabeça e esperar um convite a um motel? Pra que recusar sutilmente? Pra que ir esperando? Pra ter uma conversa "ingênua" e jogar gamão a noite toda? Não comigo!
Eu transei, eu paguei.

Atenção: Esta obra é fictícia.
Texto escrito por Vanessa Barbosa e revisado por Thasio Sobral.

44 comentários:

  1. Me ha encantado este Relato.
    Um abraço e beijos.

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  2. Maravilhoso conto, eu amo contos e ainda mais do género. Fantástico Vanessa.

    Abraços!

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    1. Obrigada Cláudia! Adoro os seus contos.
      Beijos querida.

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  3. Amei o texto. Penso exatamente assim. um bjo

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    1. Que bom Rafaela! Seria ótimo se todas as mulheres pensassem assim, rsrs.
      Beijos.

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  4. Gostei do texto, Vanessa. E infelizmente o machismo ainda impera na sociedade. O pior é quando o machismo vem de mulheres. Mas eu assino embaixo do que foi dito. Bjsssssss

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    1. Verdade Sérgio, esta é a pior face do machismo, quando ele consegue atingir mentes femininas, que se submetem as suas regras.
      Um beijo querido.

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  5. Geeeeeente! Amei esse texto, a conversa familiar no desfecho que me deixou mais contente pela leitura.
    A coragem da personagem de enfrentar os pais, e defender nós mulheres! Adorei mesmo.

    Beijos.
    http://www.quaseatoa.com/

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  6. Muito bom, Vanessa.
    A situação foi mesmo bizarra e desagradável, pois nenhuma garota quer tornar público para os pais a sua ida ao motel com o namorado. É constrangedor. Mas antes da ida ao motel o casal deveria ter o cuidado de conferir a carteira, né não? rsrs
    Corajosa ela ao expressar sua posição diante do pai.

    Beijo.

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    1. Bota desagradável nisso. Rsrs não é? Conferir a carteira sempre!
      Beijo.

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  7. Muito massa esse conto. Parabéns!!
    Beijos e tenha uma boa semana gata.
    http://iasminsilva.blogspot.com.br/

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  8. Olá Vanessa!

    Gostei muito de ler o teu conto, mesmo sendo fictício. Está muito bom e transmite uma mensagem muito importante, além de as mulheres terem desejos e fantasias sexuais, são mais responsáveis que os homens, pagando sempre a factura.

    Beijos,

    Cris Henriques

    http://oqueomeucoracaodiz.blogspot.com

    P. S. - Convido-te para a comunidade Escritores Criativos da qual sou proprietária:

    http://plus.google.com/u/0/communities/118275103014865235924

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    1. Cris, é fictício, mas eu não duvido que aconteça na vida real isso de os pais quererem se impor de tal modo na sexualidade dos filhos.
      Muito bacana essa comunidade, vou participar.
      Beijos.

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  9. Gostei.

    Obs:apesar de muito ocupado vou fazer os possíveis por passar por cá.

    Beijinho.

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    1. Obrigada Manuel. Passe por aqui mesmo, ficarei muito feliz!

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  10. Oi Vanessa, posso sim participar desse momento especial para vc. Me explica o que devo fazer...bjinho

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  11. Na pura essência do amor não existe distinção entre quem faz coisa ou outra por força da união proposta por ele.

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  12. Haha, adorei o texto Vanessa!
    Beijos :*
    Nos olhos de quem viu

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    1. Obrigada Tatá!
      Beijão flor e tenha uma semana maravilhosa.

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  13. Adoro quando o fictício te faz crer que é real. Gostei.

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    1. E não seria essa a intenção? Se fosse superficial, ninguem gostaria, rsrs.
      Beijos.

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  14. Por supuesto el día 21 me pasearé por tu mágico Espacio.
    Abraços e beijos.

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  15. Pues muy bien; vamos a ver si me sale una Poesía improvisada...Ahí va, espero que te guste.

    ¡¡¡Parabens Vanessa
    por este cuarto Aniversario!!!
    Tu blog embelesa
    por su Hermosura a Diario.

    Divina Feminilidade.
    Maravilloso Espacio.
    Siempre Tu Dulzura invade,
    visitando Tu Virtual Palacio.

    ¡¡¡Parabens!!!¡¡¡Felicidades!!!
    Espléndidos 4 añitos de tu Precioso Blog.
    Um abraço e beijos.

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    1. Gracías Pedro.
      Es muy hermoso, yo soy feliz. Mañana vienen echa un vistazo a la publicación.

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  16. Há um tempo atrás que não me lembro exatamente quanto, eu estava procurando alguns blogs para o meu blogroll e também para que eu lesse sempre para me espelhar e aprender algumas coisas sobre blogs. Enfim, em uma dessa andanças, passeadas, não sei como cheguei aqui no Divina Feminilidade. De primeira, me encantei logo com o nome e a foto. E coloquei na lista de blogs lidos do meu blog, por que realmente acompanho e gosto bastante dos textos de Vanessa. São textos, claros, concisos e me identifico muito com o blog por ter um perfil próximo do meu blog. É isso, já me alonguei demais, espero que venham muitos anos.

    Parabéns!

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    1. Muuuuito obrigada Rafaela, fiquei muito feliz. É por leitores como você, que procuro sempre melhorar.
      Beijos.

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  17. Oi Vanessa

    Acabei de ler seu recadinho e fiquei muito feliz por você estar comemorando 4 anos do blog, uma marca para parabenizá-la muito, pois não é fácil conciliar a vida offline com a administração de um blog de sucesso como o seu. Parabéns!


    O blog Divina Feminilidade é um espaço leve, que nos atrai pela variedade e pela forma inteligente e delicada de expor os assuntos. O olhar sensível e a forma carinhosa com que você se expressa e se comunica com seus leitores a tornam uma amiga que desejamos ter por aqui por muitos e muitos anos mais.
    Parabéns Vanessa, vida longa ao Divina Feminilidade!

    Um beijo

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    1. Vaaan, que felicidade você ter conseguido participar, rsrs.
      Fiquei emocionada com o que escreveu, mas vou deixar as lágrimas para amanhã, pois como você disse, 4 anos é uma marca importante.
      Beijão querida.

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  18. Desculpe, mas pelo texto concordo com seu pai..isso sou muito conservadora e fazem parte da educação, gentileza do homem..claro que lendo o contexto todo é diferente.
    Bom espero que ainda de tempo de escrever sobre o blog:
    Vanessa, sempre te acompanho e gosto muito dos seus textos, leva à refletir, pensar..no seu aniversário do blog, desejo que a cada dia possa nos presentear com seus posts e que a cada ano que passa mais pessoas possa conhecer e usufruir desse seu canto. Parabéns. Sandra

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    1. Não é meu pai :O esse texto é fictício, rsrsrs.
      Mas entendo sua posição... Só não acho que machismo e gentileza caminhem juntos.

      Eu adorei sua mensagem e já inclui no post. Beijos querida.

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  19. Cantinho lindo e aconchegante,voltarei smp aqui õ/

    http://joicy-santos.blogspot.com.br

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  20. put'z, interessantíssimo como sempre! parabéns e continue o excelente trabalho :D

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    1. Obrigada Rafael! E quero ver voce sempre por aqui, fazendo o trabalho comigo.
      Beijos!

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